sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Liturgia da Missa

Neste próximo domingo dia 15/11, o EAC está aprofundando em seu encontro o tema: "Liturgia da Missa". Um estudo sobre o rito celebrativo da Eucarístia.
Para este momento foi enviado aos adolescentes um texto inspirador (confira abaixo), introdutório sobre a renovação litúrgica proposta pelo Concílio Vaticano II.

A RENOVAÇÃO LITÚRGICA E OS DESAFIOS: A CRISTALIZAÇÃO DOS RITOS

Pe. Antonio Sagrado Logaz (Sacerdote Orionita, Doutor em Liturgia e Sacramentos e Professor de Teologia Litúrgica)


O Mensageiro de Santo Antonio. LII(8):21-22, Outubro de 2009

"O grande apelo do Concílio é que todo o povo de batizados seja consciente e ativo, para que as celebrações sejam realmente frutuosas."

Os rituais cristãos são o gran­de patrimônio da vida da Igre­ja e revelam a riqueza cultural e espiritual dos povos que assumi­ram a fé cristã. No entanto, temores de heresias e de divisões acabaram levando as autoridades eclesiais a limitar a renovação dos ritos, que traziam possibilidades de erros e superstições. Desse modo, houve uma cristalização dos ritos cristãos, sobretudo a partir do Concílio de Trento (1545-1563). Estes se tor­naram estáveis por vários séculos, sem acolher os valores dos povos que se aproximaram da fé cristã, es­pecialmente dos asiáticos, indíge­nas e africanos. Os ritos da tradi­ção européia fixaram-se na tradição tridentina também para os evange­lizadores do Brasil e das Américas. Por isso, foram preservados a lín­gua latina, os movimentos e ges­tos, as músicas e os instrumentos da antiga tradição, sem inserir nos rituais os instrumentos, linguagem, símbolos e valores culturais dos novos povos.
Na verdade, não houve inser­ção dos valores culturais nas ce­lebrações oficiais, pois a religiosi­dade popular assumiu muitos ri­tos e símbolos em suas práticas rituais. A chamada "cristalização dos rituais cristãos" dificultou a renovação litúrgica, que se tornou um grande apelo de toda a Igreja e, foi um dos aspectos mais destaca­dos do Concílio Vaticano II.


A REFORMA PROPOSTA PELO CONCÍLIO VATICANO II


Quando os padres conciliares se reuniram no Concílio, a preocu­pação era a vida litúrgica da Igreja, que exigia renovação, pois o mun­do passava por grandes transfor­mações. A maioria das respostas às consultas se referia aos rituais sa­cramentais, expressando a urgên­cia de renovação de suas práticas centenárias.


O primeiro documento do Con­cílio, a constituição Sacrosanctum Concilium, destaca a importância da vida litúrgica, respeitando as co­munidades e sua subjetividade. De fato, a grande expressão referente às celebrações era a subjetividade, pedindo que se valorizassem as assembléias celebrantes, nas suas ações rituais.


A liturgia, assim, foi simplifica­da, desobstruindo os ritos que se haviam tornado incompreensíveis, restaurando o importante papel da assembléia e da palavra, introduzin­do o vernáculo no lugar do latim.


O grande apelo do Concilio é que todo o povo de balizados seja consciente e ativo, para que as ce­lebrações sejam realmente frutuo­sas. Portanto, os cantos devem refletir sua realidade; os ritmos de­vem surgir de sua musicalidade, e as músicas precisam refletir suas dores e alegrias. Além disso, a ho­milia deve estar ligada à vida do povo, seus desafios e seus sonhos e suas dificuldades.
Na Constituição Conciliar, os padres conciliares mostram que a Igreja não quer um único modelo ri­tual, mas deseja acolher costumes e culturas de outros povos. Assim descreve o documento: "Não é de­sejo de a Igreja impor, nem mesmo na liturgia, a não ser quando está em causa a fé e o bem de toda a co­munidade, uma forma única e rígida, mas respeitar e procurar desenvol­ver as qualidades e dotes de espíri­to das várias raças e povos. A Igreja considera com benevolência tudo o que nos seus costumes não está in­dissoluvelmente ligado a supersti­ções e erros, e, quando é possível, o mantém inalterável, por vezes che­ga a aceitá-lo na liturgia, quando se harmoniza com o ver­dadeiro e autêntico es­pírito litúrgico" (SC 37).


Esse é o espírito da renovação litúrgica da Igreja que permeia os rituais cristãos. A exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis, em 2007, observa que "a renovação operada nesses anos propor­cionou sem dúvida notáveis progressos, mas não podemos ig­norar que houve, às vezes, qualquer in­compreensão precisa­mente acerca do sen­tido desta participa­ção" (SC 52).



A RENOVAÇÃO LITÚRGICA EM NOSSA IGREJA


A renovação da vida litúrgica eclesial passa por duas etapas im­portantes. Existe uma renovação li­túrgica mais abrangente, que diz res­peito aos rituais em todos os conti­nentes, e outra mais particular, que toca a Igreja latino-americana. Vamos entender esses dois momentos:
a) No que se refere à renova­ção litúrgica universal, esta com­preende as mudanças que ocorre­ram na vida litúrgica no mundo in­teiro. O Documento 43 da CNBB, denominado "Animação da Vida Litúrgica da Igreja" (1989), traça os passos dessa renovação, quando apresenta as mudanças ocor­ridas nas décadas de 1960 e 1970. Podemos destacar al­guns pontos:
- uso do vernáculo (língua local) nas celebrações;
- sacerdote de frente para o povo, facilitando a interação entre o sacerdote e a co­munidade;
- eliminação da duplicida­de de ritos, que eram feitos em latim e português;
- simplificação dos ritos, sem muitas redundâncias nos movimentos;
- cantos mais populares com ritmos e instrumentos do próprio povo;
- tradução dos textos litúrgicos e alguma adaptação.
b) Quanto à renovação litúrgica na América Latina, esta se refere mais particularmente às realidades dos países latino-americanos, tendo em con­sideração a cultura de nossos povos. Destacamos alguns passos importantes:
- acolhida da dimensão social nos rituais;
- valorização da realidade dos povos carentes e suas lutas;
- incorporação das várias etnias, como negros, indígenas, caboclos, camponeses etc.;
- valorização dos ministé­rios dos leigos e das mulhe­res nas ações litúrgicas.
A renovação litúrgica na Igreja, especialmente na Amé­rica Latina, foi muito fecunda. Apesar das dificuldades e dos limites, tal movimento teve a capacidade de renovar e inse­rir a liturgia na vida concreta dos povos, tornando-a mais libertadora e eficaz.


OS GRANDES DESAFIOS


Embora a renovação litúr­gica tenha dado grandes pas­sos e envolvido grandemen­te a assembléia nos rituais, alguns desafios permanecem.
Antes de tudo, para que a li­turgia seja ativa e conscien­te, buscamos sempre maior participação. Não se trata apenas de participação exte­rior, que é necessária, mas da interação entre o ritual e o espírito dos fiéis. Não pode­mos considerar que somente cantorias, movimentos dinâ­micos e gestos expansivos sejam suficientes para garan­tir a participação. Isso exige envolvimento espiritual da assembléia, bem como mo­mentos de silêncio e comu­nhão em ocasião das leituras, súplicas e símbolos.


Os primeiros passos, após o Concílio Vaticano II, foram tímidos para a criatividade; depois houve grande variedade de ações litúrgicas criati­vas. Hoje buscamos maior equilíbrio na criatividade, para não confundir a criatividade com libertinagem no rito.


O maior desafio da reno­vação litúrgica está na inser­ção de seus símbolos e sua linguagem na vida urbana. Os tempos modernos exigem no­vas posturas dos celebrantes e reintegração da assembléia, sem escorregar para modelos imitativos de grupos religio­sos que transformaram os seus cultos em festivais de cantorias. Nossa vida litúrgi­ca exige interação com os "tempos modernos", mas não pode banalizar seus ritos. Deve, antes, cuidar da forma­ção da comunidade, da inter- comunicação entre os fiéis e da profundidade nos momen­tos celebrativos.
E inegável que a dimensão emocional está presente na vida litúrgica, mas não deve ser integrada abusivamente, proporcionando alienação e fantasia espiritual.


CONCLUSÃO


Os tempos mudam e se re­novam. Novas linguagens e novos valores culturais des­pontam com o passar dos tem­pos. A Igreja precisa integrar-se nos novos caminhos da humanidade, caso contrário permanecerá como um gueto nos porões da sociedade. De igual modo, a celebração da liturgia precisa assumir as no­vas formas de linguagem, in­tegrando o perene mistério de nossa fé na realidade das co­munidades.


O mistério da fé celebrado na Igreja descortina a grande­za de nossa vida e eleva o es­pírito de nosso povo. Deve­mos abrir nosso espírito para integrar a realidade social nos ritos; essa tarefa delicada e exigente permitirá que nossos rituais sejam sempre renova­dos e encarnados na realida­de. A verdadeira renovação li­túrgica promove a constante união da memória de Jesus Cristo com a história do povo. Renovar sempre é o grande ideal de uma Igreja que se en­carna na vida das pessoas e celebra ativa e consciente-mente o mistério da fé em Je­sus Ressuscitado, caminhan­do e sustentando seu povo!

A liturgia é o ápice, isto é, o ponto mais alto da vida cristã; para ela, devem convergir nossa evangelização e nossas atividades pasto­rais. Por isso, existe a pas­toral litúrgica, cuja finali­dade é cuidar para que os ritos litúrgicos sejam mais bem compreendidos, celebrados e vivenciados. Pelo lugar ocupado pela liturgia, é muito importan­te que os fiéis saibam aquilo que é celebrado e, assim, possam alimentar sua fé mediante a própria celebração. Isso se dá por meio de uma catequese sistemática: é papel da pastoral litúrgica oferecer subsídios nesse sentido.


Ao mesmo tempo, faz-se necessário que os ani­madores e as equipes de liturgia conheçam e pre­parem bem os ritos a ser realizados. Infelizmente há pessoas encarregadas das celebrações que se encontram somente minu­tos antes do início da ce­lebração, deixando tudo para a improvisação. Só uma boa preparação pode fazer que o desempenho da equipe seja satisfató­rio. Ademais os próprios animadores necessitam de uma formação continuada e aprofundada!

Paz e Bem!

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